Ensinando a mensagem do Reino de Deus com CRIATIVIDADE
Quando se pensa em criatividade no ensino da mensagem, logo nos vem à mente a ideia de um Pastor carismático, realizando uma espécie de Stand Up Gospel, onde todos são levados aos risos e ao desejo de voltar para consumir este “produto eclesiástico” no próximo domingo. Não sou contra a criatividade, até porque ser criativo é natural ao ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, mas estratégias humanas baseadas em técnicas de marketing que visam atrair as pessoas, não leva a efeito a missão da igreja que é testemunhar Cristo, e não meramente atrair! Creio que precisamos desconstruir este conceito social, e que não é cristão!
Mensagem criativa é costumeiramente entendida e praticada através de estratégias humanas que voltam sua atenção para a “clientela” da igreja. Baseiam-se em pesquisas com o público alvo, perguntando a estas pessoas sobre seus interesses, e, uma vez feita a pesquisa, forma-se uma igreja com a cara das pessoas que ainda não fazem parte dela. Investe-se alto para atrair: enormes livrarias ao lado da igreja, além de uma área de alimentação completa, que oferece cardápios diferentes; templos espaçosos e modernos, equipados com o que tem de melhor em tecnologia, tanto na área da sonoplastia, como também na iluminação. E as implicações desta metodologia “criativa de ensinar” são gigantescas, primeiro porque, se o perdido é tratado como um consumidor, deve-se lembrar que “um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão” e, se o que se apresenta fere, ofende ou não agrada o cliente, precisa ser obrigatoriamente deixado de lado, modificado ou apresentado como sem importância, o que contradiz a Bíblia que afirma claramente que a mensagem da Cruz é "loucura para os que estão perecendo" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha que faz cair" (1Co 1.18 e 1Pe 2.8).
Em segundo lugar, quando se atrai os não-cristãos por meio de “coisas que os interessam”, apela-se para seu lado carnal. Por isso muitas igrejas em termos de criatividade acabam não produzindo nada, mas apenas copiam, reproduzem, o que é popular na cultura; reproduzem os mesmos estilos musicais e às vezes as mesmas melodias; pregam apenas palavras positivas, com um tom terapêutico, salientando a ajuda de Deus na vida do indivíduo. Quando o cristianismo se torna isso, centra-se mais em redução de stress do que em salvação, tem mais função terapêutica do que teológica. Fala-se sobre sentir-se bem, não sobre ser bom. É centrada no corpo e na alma e não no espírito.
É preciso ensinar com criatividade, e creio que ela está relacionada principalmente com a ideia da CONTEXTUALIZAÇÃO. A pregação/ensino se torna relevante quando, fundamentada em base bíblica, apresenta um conteúdo contextualizado capaz de alcançar os ouvintes. Contextualizar não é oferecer o que as pessoas querem, mas o que elas verdadeiramente precisam ouvir! Para isso, é importante que o pregador considere a existência de duas culturas: a cultura em que o texto foi escrito originalmente e a cultura de seus ouvintes. Somente quando o pregador conhece bem a realidade do passado e também o contexto do presente, é que ele conseguirá transmitir uma mensagem desafiadora e interessante para o homem de hoje. A contextualização só é completa quando a Palavra de Deus é aplicada ao ouvinte, o que torna a mensagem pessoal e faz com que aquele texto do passado tenha enormes implicações no meu dia a dia.
Para que a aplicação se torne realmente relevante, é interessante que o pregador siga alguns princípios: conhecer seus ouvintes, pois este conhecimento mostrará quais são as necessidades destas pessoas. Uma pregação voltada para qualquer tema que não seja a necessidade do grupo a quem se fala, torna-se completamente desnecessária e irrelevante.
O conhecimento dos ouvintes implica numa proximidade com eles. Quanto mais próximo de seus ouvintes o pregador está, tanto mais eles se aproximarão da mensagem. Outro princípio importante é a intimidade com o texto bíblico que o pregador precisa ter. A autoridade da pregação depende da proximidade entre o pregador e o texto bíblico que está sendo exposto. O texto precisa fazer parte da vida do pregador. O pregador precisa conhecê-lo em profundidade para conseguir tirar dele lições relevantes.
A simplicidade e objetividade da mensagem também precisam ser observadas. Uma mensagem truncada e delongada demais faz com que qualquer aplicação caia por terra. O pregador/professor precisa entender que sua função não é apresentar uma pesquisa erudita do texto, nem fazer uma exibição do seu conhecimento; ele está tratando com almas vivas e deseja comovê-las, conduzindo-as com ele, guiando-as à Verdade, e por isso, a erudição e a demora não o deixam desempenhar a sua função.
Nada mais criativo do que um pastor ou professor que está em contato com as pessoas e a Palavra de Deus, ao ponto de conseguir tirar grandes lições num curto espaço de tempo, para as necessidades diárias de seus ouvintes. As pessoas levarão dos nossos cultos aquilo que as atraiu! Que seja o amor demonstrado e a Palavra ensinada.
Josemar Valdir Modes